ARCHE
“[…]As fontes do conhecimento tem de ser mantidas puras, uma vez que qualquer impureza se pode tornar numa fonte de ignorância.”
Karl Popper, Acerca das fontes do conhecimento e da ignorância.
1.
Para os gregos arche era considerado tudo aquilo que existe no mundo, e se consubstancia na sua materialidade. O verbo de onde tudo nasce e para onde tudo volta. O conhecimento que existe encerrado em tudo o que é.
A arte contemporânea é pródiga em fazer eco destes movimentos primordiais, enquanto pontos de partida para novos entendimentos da sua representatividade. A presente exposição, nos seus dois momentos, é um sintoma disso mesmo. Desse modo, foi seleccionado um conjunto de artistas cujas preocupações temáticas e criativas se alicerçam num processo de trabalho – numa prática; no valorizar, do que esta tem para dizer, enquanto exercício que honra a tradição primeira, de fazer um sentido do Caos.
2.
No contexto desta exposição arche alude para a relação dos artistas com a matéria e a materialidade. Independente do médium ou da narrativa que possam trazer no seu trabalho, importa compreendermos, como aquilo que fazem, é o resultado de uma atenção e de uma preocupação com o exercício do fazer, em detrimento de abordagens mais analíticas, focadas em aspectos exógenos, ao que acontece na pratica do atelier.
3.
A abordagem de Karl Popper na epigrafe em nenhum momento foi dirigida ao universo das artes. Na realidade, foi tirada de um texto, onde fala sobre a verdade (= conhecimento), versus a ignorância, sempre numa perspectiva epistemológica, dirigindo-se ao um colégio dessa especialidade. No entanto se olharmos bem para a citação pudemos compreender como é pertinente e verosímil o seu emprego no contexto onde nos estamos a situar.
No sentido, em que os artistas são indivíduos no mundo, condicionamos e moldados à imagem das circunstancias e das contingências que lhe forem particulares. Acrescendo a isso, (nos melhores exemplares) existe um mundo interior; que demanda ser explorado).
4.
O problema (enquanto não for uma solução) reside neste dilema. Os interesses exteriores são partidários de uma moralidade, do vai ser reconhecido, na medida em que já é uma parte do mundo. Os interesses interiores vão quer ser o que poderem e tiverem de ser, para perpetuar a sua integridade. Em boa verdade, os últimos são o único património que os artistas têm e alguma vez poderão ter. Ouvir e acreditar nos caminhos que nós nunca fizemos é uma parte importante da prescrição deste trabalho.
5.
O encontro com uma obra, produzida nestas circunstâncias de desapego (em relação ao destino) vai ser sempre diferente, de todas as demais. Na certeza, de que ela traz consigo alguma coisa que ainda não foi catalogada, mesmo que em parte, já pertença a uma família ou tradição. Nessa medida, ao acreditarmos e permitirmos que o trabalho aconteça, nestes moldes, estamos a gerar conhecimento.
6.
Em suma, a colecção de artistas e a selecção de trabalhos apresentados aqui, não é mais do que um reflexo deste caminho individual partilhado por todos. Um caminho onde o movimento primordial que deu origem ao mundo, encontra nestes artistas, o seu reflexo particular.
Karl Popper, Acerca das fontes do conhecimento e da ignorância.
1.
Para os gregos arche era considerado tudo aquilo que existe no mundo, e se consubstancia na sua materialidade. O verbo de onde tudo nasce e para onde tudo volta. O conhecimento que existe encerrado em tudo o que é.
A arte contemporânea é pródiga em fazer eco destes movimentos primordiais, enquanto pontos de partida para novos entendimentos da sua representatividade. A presente exposição, nos seus dois momentos, é um sintoma disso mesmo. Desse modo, foi seleccionado um conjunto de artistas cujas preocupações temáticas e criativas se alicerçam num processo de trabalho – numa prática; no valorizar, do que esta tem para dizer, enquanto exercício que honra a tradição primeira, de fazer um sentido do Caos.
2.
No contexto desta exposição arche alude para a relação dos artistas com a matéria e a materialidade. Independente do médium ou da narrativa que possam trazer no seu trabalho, importa compreendermos, como aquilo que fazem, é o resultado de uma atenção e de uma preocupação com o exercício do fazer, em detrimento de abordagens mais analíticas, focadas em aspectos exógenos, ao que acontece na pratica do atelier.
3.
A abordagem de Karl Popper na epigrafe em nenhum momento foi dirigida ao universo das artes. Na realidade, foi tirada de um texto, onde fala sobre a verdade (= conhecimento), versus a ignorância, sempre numa perspectiva epistemológica, dirigindo-se ao um colégio dessa especialidade. No entanto se olharmos bem para a citação pudemos compreender como é pertinente e verosímil o seu emprego no contexto onde nos estamos a situar.
No sentido, em que os artistas são indivíduos no mundo, condicionamos e moldados à imagem das circunstancias e das contingências que lhe forem particulares. Acrescendo a isso, (nos melhores exemplares) existe um mundo interior; que demanda ser explorado).
4.
O problema (enquanto não for uma solução) reside neste dilema. Os interesses exteriores são partidários de uma moralidade, do vai ser reconhecido, na medida em que já é uma parte do mundo. Os interesses interiores vão quer ser o que poderem e tiverem de ser, para perpetuar a sua integridade. Em boa verdade, os últimos são o único património que os artistas têm e alguma vez poderão ter. Ouvir e acreditar nos caminhos que nós nunca fizemos é uma parte importante da prescrição deste trabalho.
5.
O encontro com uma obra, produzida nestas circunstâncias de desapego (em relação ao destino) vai ser sempre diferente, de todas as demais. Na certeza, de que ela traz consigo alguma coisa que ainda não foi catalogada, mesmo que em parte, já pertença a uma família ou tradição. Nessa medida, ao acreditarmos e permitirmos que o trabalho aconteça, nestes moldes, estamos a gerar conhecimento.
6.
Em suma, a colecção de artistas e a selecção de trabalhos apresentados aqui, não é mais do que um reflexo deste caminho individual partilhado por todos. Um caminho onde o movimento primordial que deu origem ao mundo, encontra nestes artistas, o seu reflexo particular.
ARCHE
“[...] Sources of knowledge must be kept pure since any sign of impurity can make them a source of ignorance.”
Karl Popper, On the sources of knowledge and Ignorance
1. For the Greeks, arche was everything that had existed in the world, who consubstantiate his materiality. The verb from which everything was born and someday would come back to. The knowledge that lays down within all existence.
2. Contemporary art is prodigal in finding representativeness in these starting points, echoing primordial shifts and turns. The present exhibition in all of his parts is a testimony of that. Selecting a group of artists with a lot of the same thematic and creative concerns – based on practice.
3. The context brought to this exhibition tries to summon the relation between the artist practice, the material and the materiality. Regardless of the medium or the narrative that they may bring into the work, it is important to understand, how what they are doing, ends up as a result of care and attention towards the exercise of making something, in detriment of other sort of analytical approaches, focused on exogenous aspects, rather then on the things that happen within the studio labor.
4. The approach taken by Karl Popper in the epigraph wasn’t thinking about the arts in any given moment. In fact, it was quoted from a text about truth as a source of knowledge versus ignorance, always keeping a firm epistemological approach, aiming the college of his trade. What is important to understand, what is relevant and truthful for the purpose of that quote into this text is a wider scope of his significance that could be spread into all human activities, and the Arts as well.
5. In the sense that the artists ( like everyone else) are individuals in the world strained and moulded by the contingencies and circumstances that pressed them. Sometimes, on top of that, there is an inner world, unknown for the most part, demanding to be charted out. From this point forward the dilemma that lies ahead is simple. From one side there are exterior interests that hold for morality that will be noticed and valued based on the fact that they are acknowledgeable in the world. On the other side, there will be self-creative interests, that for the most part, will try to keep their integrity for all cost. The latter is the greatest treasure that an artist can have, the one he must not live without. To listen and believe, on the paths we never walked before is a greater part of this job prescription. The meeting with a piece of art in these terms of detachment will always be different, from anyone other experience of this kind.
6. In short, the collection of artists and the works presented in this venue is nothing less than a reflection of an individual path shared by us all. A path where the shifts and turns that originate the world reflect in the works gathered here a particular shine.
Karl Popper, On the sources of knowledge and Ignorance
1. For the Greeks, arche was everything that had existed in the world, who consubstantiate his materiality. The verb from which everything was born and someday would come back to. The knowledge that lays down within all existence.
2. Contemporary art is prodigal in finding representativeness in these starting points, echoing primordial shifts and turns. The present exhibition in all of his parts is a testimony of that. Selecting a group of artists with a lot of the same thematic and creative concerns – based on practice.
3. The context brought to this exhibition tries to summon the relation between the artist practice, the material and the materiality. Regardless of the medium or the narrative that they may bring into the work, it is important to understand, how what they are doing, ends up as a result of care and attention towards the exercise of making something, in detriment of other sort of analytical approaches, focused on exogenous aspects, rather then on the things that happen within the studio labor.
4. The approach taken by Karl Popper in the epigraph wasn’t thinking about the arts in any given moment. In fact, it was quoted from a text about truth as a source of knowledge versus ignorance, always keeping a firm epistemological approach, aiming the college of his trade. What is important to understand, what is relevant and truthful for the purpose of that quote into this text is a wider scope of his significance that could be spread into all human activities, and the Arts as well.
5. In the sense that the artists ( like everyone else) are individuals in the world strained and moulded by the contingencies and circumstances that pressed them. Sometimes, on top of that, there is an inner world, unknown for the most part, demanding to be charted out. From this point forward the dilemma that lies ahead is simple. From one side there are exterior interests that hold for morality that will be noticed and valued based on the fact that they are acknowledgeable in the world. On the other side, there will be self-creative interests, that for the most part, will try to keep their integrity for all cost. The latter is the greatest treasure that an artist can have, the one he must not live without. To listen and believe, on the paths we never walked before is a greater part of this job prescription. The meeting with a piece of art in these terms of detachment will always be different, from anyone other experience of this kind.
6. In short, the collection of artists and the works presented in this venue is nothing less than a reflection of an individual path shared by us all. A path where the shifts and turns that originate the world reflect in the works gathered here a particular shine.