NOUS textos para o Livro de Artista
O interesse alargado do meu trabalho é o Mundo em toda a sua diversidade. Nos meus desenhos e pinturas sempre existiu essa atenção a um todo, um infinito, que com o tempo parece aflorar como um assunto. Influenciado pelos axiomas de Bento de Espinosa (Ética) e pelo conhecimento recente, em 2014, de Abi Warbug, propus-me um exercício. Iria escolher e formar dois conjuntos de imagens, que seriam posteriormente combinadas num único desenho ou numa pintura. Desde então é o método que tenho utilizado resultando dai cinco series diferentes de desenhos/ pinturas em papel (recentemente em tela).
Investigando este assunto descobri que existe um ramo da Matemática que se preocupa com as relações que determinados conjuntos de elementos podem ter entre si. Dessa forma tomei contacto com um conhecimento formal, que vai de encontro ao meu desejo de adoptar um axioma que possa ser um ponto de partida para a minha investigação artística. O axioma que encontrei que pode reflectir este ponto de partida diz-nos que :
Onde,
A= {grupo de imagens de galáxias}
E
B= { grupo de imagens de carros}
Onde,
Na teoria dos conjuntos a intersecção é um conjunto de elementos que simultaneamente, pertencem a dois ou mais conjuntos representado pelo símbolo de intersecção. E de facto, todas estas premissas correspondem ao meu processo criativo. Para fazer as series eu escolho de um universo ilimitado de imagens (a internet, sobretudo o Tumblr) dois assuntos genéricos, (utilizando a ultima serie como exemplo “carros”(A) e “astros” (B) que vão formar dois cadernos com um numero limitado de imagens, cada um. Algumas dessas imagens vão ser escolhidas, formando desenhos e pinturas, que constituirão o corpo de trabalho que vou fazer. Sendo assim, posso dizer que todos resultados do meu trabalho de atelier encontram uma representatividade no axioma, acima mencionado.
Na lógica tradicional, um axioma ou postulado é uma sentença ou proposição que não é provada ou demonstrada e é considerada como óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou aceitação de uma teoria.(Wiki)
Para lá da utilidade de ter um método estabelecido para desenvolver o meu trabalho o interesse nesta abordagem está seguramente naquilo que ela suscita mas que à primeira vista pode passar despercebido. E que passa pelo primado de uma ética da pratica e do fazer. O descobrir um modo de fazer em silêncio aceitando as escolhas das afinidades que encontramos no Mundo e não conseguimos explicar, mas que sabemos que devemos seguir. O axioma evidencia os princípios sem lhe comprometer a alma. Alma no sentido latino “de Anima” de conter vida, de “animar” um corpo, como Aristóteles nos ensinou. Quero tentar fazer objectos com alma, Humanos.
Desta forma cada resultado procurará ser um postulado e uma manifestação deste devir, que cultivo à algum tempo e só agora começo a conseguir verbalizar.
Ao longo do tempo foram varias as evoluções que ocorreram no meu processo criativo.servem os quatro diagramas como uma tentativa de elencar essas mudanças de acordo com o que neste momento consigo ver.
Sob a designação de “FIAT” nos diagramas, falo do momento criador da expressão do latim “fiat lux”(faça-se luz).
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FIAT
Do Latim “que se cumpra; que se faça ” ( let it be done)
Expressão do Direito, que se aplica por intermédio de uma voz deliberativa. A voz que outorga a justiça.
Por estranho que pareça a pintura também vive de uma jurisprudência. De hábitos conquistados ao breu, apaziguados no silêncio de uma rotina, para poderem produzir aquilo que não sabemos e de que precisamos, para continuar. Que se cumpra! Que se faça! Que aconteça! O quê?... a pintura?
Pintar é aceitar que existe uma parte da nossa vida que não nos pertence – a parte da pintura. Dessa forma é esta voz (que nós vivemos em silêncio) que orquestra aquilo que podemos fazer ao serviço do que nos move.
É esta voz que educamos para que se faça luz.[1]
É esta voz, aquela, de que nos queremos esquecer. Enquanto for uma presença nunca poderá dizer as nossas palavras. A pintura vive de silêncio. E cada pintor tem de descobrir o seu. Pois ao encontrá-lo, está a encontrar a sua voz. Circunstância que não hesita na manutenção daquilo que é – um modo de ser sem reservas.
São muitos os relatos dos artistas que guardam essa reserva nas suas vidas para que estes acontecimentos tenham espaço para acontecer. E é disso que estamos a falar. Do perpetuar de fenómenos materialistas[2] na vida de um ser humano em pleno séc. XXI. De trabalho, e silêncio, e um ritual que a nossa pratica da pintura nos ensinou, para que se possa materializar e ser o que é.
Para esta exposição reunimos trabalho de cinco pintores. Cada um preocupado com a sua voz. O que nos une é esta consciência do que a pintura pode ser. De que dificilmente poder ser só semiótica. Para mim é sempre uma epistemologia, uma epistemologia do ser.
E no entanto podem-nos perguntar; e o que temos nós, leitores, com isso? O que traz de novo? A minha resposta será sempre pessoal, sendo de facto muito sucinta. Nada. A pintura não traz nada de novo. É uma constante reminiscência de um futuro cheio de fantasmas. E é ai que está o seu interesse. No imenso património que transporta. Colocando-nos em contacto com a nossa humanidade. Com a paradoxal realidade que foge do real e pelo avesso marca esse tempo. Não precisamos de Historia para sermos pintores. Precisamos de tinta e de um devir nos leve para um sítio particular.
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Nous (British: / naʊs /; [1] EUA: / NUS /), às vezes equiparado ao intelecto ou inteligência, é um termo filosófico para a faculdade da mente humana, que é descrito na filosofia clássica como necessário para entender o que é verdadeiro ou real. Os três termos filosóficos habitualmente utilizados são do grego, νοῦς ou νόος e intellectus da língua latina. Para descrever a atividade desta faculdade, além de verbos com base na "compreensão", a palavra "intelectualização" é por vezes utilizada em contextos filosóficos, e as palavras gregas Noesis e noein às vezes são usados também. Esta actividade é entendida de um modo semelhante, pelo menos em alguns contextos, à concepção moderna da intuição.
Em filosofia, traduções inglesas comuns incluem "compreensão" e "mente"; ou às vezes "pensamento" ou "razão" (no sentido daquele que esta certo, e não sobre a atividade de raciocínio). Também é frequentemente descrito como algo equivalente a uma percepção eque trabalha dentro da mente ( "olho da mente"). Sugeriu-se que o significado básico é algo como "consciência". Em Inglês Britânico, nous também denota "bom senso", que está perto de um significadpo diário o que significa que tivemos na Grécia Antiga.
Em trabalhos influentes de Aristóteles, o termo foi cuidadosamente distinguido da percepção sensorial, imaginação e razão, embora esses termos estão estreitamente inter-relacionados. O termo foi apontado por filósofos anteriores, como Parmênides, cujas obras estão em grande parte perdido. Em discussões pós-aristotélicas, os limites exatos entre a percepção, compreensão da percepção e raciocínio nem sempre concordou com as definições de Aristóteles, apesar de sua terminologia continua a ser influente.
No esquema aristotélico, nous é o conhecimento básico ou a consciência que permite que os seres humanos consigam pensar racionalmente. Para Aristóteles, este é distinto da percepção sensorial, incluindo o uso da imaginação e da memória, que outros animais não podem fazer.
[1] FIAT LUX – expressão do latim onde é mais comum empregar a palavra fiat. https://en.wikipedia.org/wiki/Let_there_be_light
[2] Referente ao Materialismo que se enquadra na Filosofia na classe da ontologia monista. https://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo; https://pt.wikipedia.org/wiki/Monismo